Minicursos


1. FONTES PARA A HISTÓRIA DOS AFRICANOS EM PERNAMBUCO IMPERIAL

Valéria Costa
Doutora em História Social/UFBA
Docente do IF Sertão Pernambucano - Campus Ouricuri
valeria_gcosta@yahoo.com.br

EMENTA:
Aa produção historiográfica sobre as experiências africanas na diáspora vem se avolumando desde a década de 1980. No Brasil, em particular, a pesquisa empírica em variadas fontes – algumas inéditas – como os testamentos e inventários post-mortem, possibilitaram aproximarmo-nos das expectativas e perspectivas dos africanos. Mais do que informações sobre a vida material de libertos, testamentos e inventários são pertinentes documentos acerca das relações sociais, medos, anseios, laços familiares e afetivos, graus de parentescos entre livres, forros e cativos. Por outro lado, a documentação eclesiástica, que possui uma forte tradição em estudos de demografia e família na Europa vem sendo constantemente utilizada pelos historiadores sociais no Brasil. Através dos registros paroquiais é possível remontarmos também as redes de compadrio de cativos, forros e livres, além de ser uma ótima ferramenta para perscrutarmos as nações e identidades transétnicas que foram sendo reinventadas nas Américas. Vale ressaltar que os estudos sobre os africanos no Brasil são intensos na região Sudeste e no estado da Bahia. Embora Pernambuco tenha sido a terceira capital do Império a receber grande número de pessoas da África para serem escravizadas, as pesquisas ainda são tímidas no tocante as experiências desses indivíduos na região. Este curso pretende, portanto, discutir como estas e outras fontes podem ser utilizadas na reconstrução da história dos africanos na capital pernambucana na segunda metade do Império.

BIBLIOGRAFIA:
COSTA, Valéria Gomes. Trajetórias negras: os libertos da Costa d’África no Recife (1846-1890). Tese (Doutorado em História Social), Salvador: UFBA, 2013.
______. Monica da Costa e Thereza de Jesus: africanas libertas, status e redes sociais no Recife oitocentista. In: XAVIER, Giovana; FARIAS, Juliana B.; GOMES, Flávio. Mulheres negras no Brasil escravista e do pós-emancipação. São Paulo: Selo Negro, 2012. p. 98-111.
______. Os libertos no Recife: os mundos de João Joaquim José de Santa Anna. In: COSTA, Robson; CABRAL, Flavio J. Gomes (orgs.). História da escravidão em Pernambuco. Recife: Editora Universitária UFPE, 2012. p. 241-265.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Negros, estrangeiros: os escravos libertos e sua volta à África. São Paulo: Brasiliense, 1985.
FERNANDES, Cyra Luciana Ribeiro de Oliveira. Os africanos livres em Pernambuco, 1831-1864. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010.
OLIVEIRA, Maria Inês Côrtes de. O liberto: seu mundo e os outros (1790-1890). São Paulo: Corrupio, 1988.
PINSKY, Carla B. (org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
SOARES, Carlos E. Líbano; GOMES, Flávio dos Santos; FARIAS, Juliana Barreto. No labirinto das nações: africanos e identidades no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005.
VERGER, Pierre. Os libertos: sete caminhos na liberdade de escravos da Bahia, no século XIX. Salvador: Corrupio, 1992.
WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Sonhos africanos, vivências ladinas: escravos e forros em São Paulo (1840-1880). São Paulo: Hucitec, 1998.


2. A PENA DE MORTE A ESCRAVOS NO BRASIL IMPERIAL

André Carlos dos Santos
Doutorando em História – UFPE
andrec_historia@hotmail.com

EMENTA:
No alvorecer do Império a manutenção da pena de morte dividiu deputados e senadores durante a elaboração do Código Criminal. A Constituição permitia ou não esse castigo? Ou, como abolir a pena e controlar os escravos sem o terror da morte, já que era ela que punha fim a seus atos de rebeldia? Neste minicurso analisaremos a ideologia, o aparato logístico, a ritualística e a administração da pena de morte a escravos no Brasil. Utilizaremos fontes criminais que, se por um lado, não são “janelas escancaradas”, através das quais podemos perceber nítida e claramente o passado, por outro, não são “muros que obstruem a visão”, então, utilizando o paradigma indiciário de Carlo Ginzburg no qual as fontes são trabalhadas para além do que é dito, atendo-se no que é secundário, detalhes, entrelinhas e silêncios, que buscamos vislumbrar um pouco do passado desses negros escravos que foram jogados na eternidade com o consentimento do Estado.

BIBLIOGRAFIA:
AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra medo branco: o negro no imaginário das elites século XIX. São Paulo: Annablume, 2004.
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin Claret, 2000.
DAVIS, Natalie Zemon. Histórias de Perdão e seus narradores na França do século XVI. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
GINZBURG, Carlo. Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. In: ______. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
MACEDO, Joaquim Manuel de. As vitimas-algozes: quadros da escravidão. São Paulo: DLC, 2006.
MALERBA, Jurandir. Os brancos da Lei: liberalismo, escravidão e mentalidade patriarcal no Império do Brasil. Maringá: EDEM, 1994.
PIERANGELI, José Henrique. Códigos penais do Brasil: evolução histórica. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004.
SANTOS, André Carlos dos. Tal pai tal filho? A família Nabuco e a pena de morte no Brasil. In CABRAL, Flávio José Gomes; COSTA, Robson (Orgs.). História da Escravidão em Pernambuco. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2012. p. 187-212.
SILVA, Cesar Mucio. Processos-crime: escravidão e violência em Botucatu.  São Paulo: Alameda, 2004.
SILVA, Mozart Linhares da.  O império dos bacharéis: o pensamento jurídico e a organização do Estado-Nação no Brasil.  Curitiba: Juruá, 2009.


3. AS MUNICIPALIDADES PARA O GOVERNO DA CIDADE: NOTAS SOBRE UMA INSTITUIÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA NO BRASIL IMPERIAL
Williams Andrade de Souza
Mestre em História – UFRPE
willandsouza@hotmail.com

EMENTA:
Neste curso discutiremos sobre as câmaras municipais como instituições político-administrativas no Brasil Imperial. Inicialmente, faremos um breve apanhado histórico sobre a temática; em seguida, apresentaremos as leis que normatizaram a organização e o funcionamento dessas instituições, dando-lhes “novas” configurações após a independência do país; versaremos sobre as suas funções e formas de atuação no espaço urbano, tomando como exemplo a Câmara Municipal do Recife na primeira metade dos Oitocentos. Com isso, pretendemos refletir sobre a ação da municipalidade no governo da cidade, destacando as influências e importâncias para além das suas funções governativas/administrativas, ou seja, políticas e culturais, conforme conjeturamos. No contexto desse exercício, trataremos sobre documentos, temas e problemas para o estudo sobre as câmaras municipais no Império.

BIBLIOGRAFIA:
CÂMARA, Leandro Calbente. Administração colonial e poder: a governança da cidade de São Paulo (1765-1802). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008
CAMPOS, Adriana Pereira. Magistratura leiga no Brasil independente: a participação política municipal. In: CARVALHO, José Murilo [et al.]. Linguagens e fronteiras do poder. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011.
CAMPOS, Maristela Chicharro de. O governo da Cidade: elites locais e urbanização em Niterói (1835-1890). Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2004.
DOLHNIKOFF, Miriam. O pacto imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo, 2005.
FAORO, Raimundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 12. ed. Rio de Janeiro: Globo: 1997.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1997.
ROSSATO, Jupiracy Affonso Rego. Os negociantes de grosso trato e a câmara municipal da cidade do Rio de Janeiro: estabelecendo trajetórias de poder (1808-1830). Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
SLEMIAN, Andrea. Sob o império das leis: constituição e unidade nacional na formação do Brasil (1822-1834). Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
SOUZA, Ângela de Almeida Maria. Posturas do Recife imperial. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2002.
SOUZA, Maria Aparecida Silva de. Construindo a “nação brasiliense”: Poderes locais e identidades políticas na Bahia, (1815-1831). Almanack Braziliense, n. 02, nov. 2005. Disponível em: http://www.almanack.usp.br/PDFS/2/02_ informes_2.pdf. Acessado em: 30.11.2010.
SOUZA, Williams Andrade. Administração, normatização e civilidade: a Câmara Municipal do Recife e o governo da cidade (1829-1849). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2012.


4. O PERÍODO IMPERIAL BRASILEIRO E AS TRANSFORMAÇÕES DE COMPORTAMENTO DAS CLASSES DOMINANTES

Sandro Vasconcelos da Silva
Mestre em História – UFRPE
Responsável pelo Núcleo de Pesquisas José Gonsalves de Mello – MCR
svasconcelos72@gmail.com
biblios.museudacidadedorecife@gmail.com
EMENTA:
É fato que ao longo dos períodos históricos os grupos sociais nela imersos passaram por processos de formação e transformação de seus comportamentos que os conduziram as formas de ser, de pensar e de agir. Sob essa perspectiva, o intuito deste minicurso é se debruçar sobre o fascinante século XIX, centúria marcada pela ideia de progresso que estimulava a busca pela modernização das sociedades ocidentais, imprimindo nelas as definições do que é civilizado. Nosso foco principal será promover uma reflexão acerca de como esse pensamento se propagou e tomou forma em algumas cidades brasileiras, proporcionando uma redefinição dos usos e costumes, repensando e estabelecendo novos conceitos, tais como, público, privado, civilizado e selvagem. Tendo sua gênese com a chegada e estabelecimento da Família Real no Rio de Janeiro, assim como, a massiva presença de outros estrangeiros que também por aqui estiveram ou se estabeleceram nos principais núcleos urbanos. Aos poucos o interesse pelos novos costumes, gostos e valores “seduziram” muitas pessoas que estavam ávidas por uma identificação com os principais exemplos de civilidade dá época e embora pareça contraditório pensar em modernização dentro de uma sociedade que ainda se servia do trabalho escravo esse “projeto social” conseguiu grande repercussão, vindo a intensificar-se ao longo do período imperial brasileiro.

BIBLIOGRAFIA:
CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: 2 morar, cozinhar. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
CLAVAL, Paul. A geografia cultural. 3 ed. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2007.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994, v. 1.
HAROCHE, Claudine.  Da palavra ao gesto. Campinas, SP: Papirus, 1998.
MAURO, Frédéric.  O Brasil no tempo de Dom Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras: Círculo do Livro, 1991.
PECHMAN, Robert Moses. Cidades estreitamente vigiadas: o detetive e o urbanista. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2002.
PINHO, Wanderley. Salões e damas do segundo reinado. 3. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1959.
ROCHE, Daniel. História das coisas banais: nascimento do consumo séc. XVII-XIX. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
SENNETT, Richard. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
STAROBINSKI, Jean. As máscaras da civilização: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.


5. POLÍCIA IMPRESSA: AS OPINIÕES NOS JORNAIS SOBRE A POLÍCIA DO RECIFE (1850 – 1874)
Emmanuelle Lima
Mestra em História - UFRPE

EMENTA:
Este minicurso tem por objetivo discutir as críticas direcionadas em jornais sobre a polícia do Recife da segunda metade do oitocentos. Serão analisadas as ideias de “opinião pública” em meio ao contexto político-social do Recife no período proposto, percebendo, além de espaços de discussões na cidade, os jornais como um dos principais veículos para a construção desta “opinião”. A metodologia de trabalho com jornais será outro ponto de abordagem a ser trabalhado, percebendo o jornal enquanto uma fonte histórica que abrange vários aspectos sociais. Junto a estas abordagens, analisar o contexto da polícia em meio às críticas que foram publicadas. É importante destacar que, para além das discussões bibliográficas, utilizaremos excertos transcritos de documentos com o objetivo de ilustrar as discussões desenvolvidas.

BIBLIOGRAFIA:
ARRAIS, Raimundo. O Pântano e o Riacho: a formação do espaço público no Recife do século XIX. São Paulo: Humanitas/FFLLCH/USP, 2004.
CARVALHO, Marieta Pinheiro de. Uma ideia ilustrada de cidade: as transformações urbanas no Rio de Janeiro de D. João VI (1808-1821). Rio de Janeiro: Odisséia, 2008.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
______. A Invenção do Cotidiano: 1. Artes de Fazer. 16. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2009.
HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Capítulos de História do Império. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
MATHEUS, Carlos. As opiniões se movem nas sombras. São Paulo: Atlas, 2011.
MOREL, Marco. As Transformações dos Espaços Públicos: imprensa, atores políticos e sociabilidades na cidade imperial. São Paulo: Editora Hucitec, 2005.
MOUILLAUD, Maurice. O Jornal: da forma ao sentido. Brasília: Paralelo 15, 1997.
SILVA, Wellington Barbosa da (Org.) Uma Cidade, Várias histórias: O Recife no século XIX. Recife: Bagaço, 2012.


6. TEMAS, FONTES E ABORDAGENS: por uma nova história da África Portuguesa (Moçambique, na transição do século XIX ao XX).

Giselda Brito Silva
Doutora em História – PPGH/UFRPE
gibrs@uol.com.br

Wellington Barbosa da Silva
Doutor em História – PPGH/UFRPE

EMENTA:
Os temas ligados à História da África Portuguesa ganham visibilidade e interesse por parte da historiografia brasileira, que incorporou, ainda que muito recentemente, preocupações com temas, fontes e abordagens desta história numa perspectiva mais ampla às já conhecidas leituras brasileiras da África. Visando dar nossa contribuição ao estudo da História da África a partir dos novos referenciais, e aproveitando as atuais condições de acessos à informação, este minicurso visa apresentar alguns referenciais fundamentais para conhecimento da História de Moçambique na transição do século XIX ao XX. A meta é trabalhar com os participantes alguns autores, obras e abordagens da atualidade, envolvendo uma discussão em torno de textos (livros, e-books, revistas) e imagens (vídeos, mapas, etc.) que possam estimular os novos pesquisadores a aprofundar uma história que, definitivamente, faz parte da nossa história ontem e hoje.

REFERÊNCIAS:

Revista Científica da Universidade Eduardo Mondlane - Maputo

CAPELA, José. As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, 1810-1842. Disponível em: < http://www.africanos.eu/ceaup/uploads/EB087.pdf>.

COUTO, Mia. Pensatempos: textos de opinião. Alfragide: Editorial Caminho, 2005.

DAVIDSON, A. Basil; ISAACMAN, Allen F.; PÉLISSIER, René. Política e nacionalismo nas Áfricas central e meridional, 1919-1935. In: BOAHEN, Albert Adu (Ed.). História Geral da África – VII: África sob dominação colonial, 1880-1935, p. 813-832. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000324.pdf>.

PÉLISSIER, René. História de Moçambique: formação e oposição (1854-1918). 3. ed. Lisboa: Editorial Estampa, 2000, v. 1.

______. História de Moçambique: formação e oposição (1854-1918). 3. ed. Lisboa: Editorial Estampa, 2000, v. 2.

M’BOKOLO, Elikia. África negra: história e civilizações. Salvador: EDUFBA; Sã Paulo: Casa das Áfricas, 2009, t. 1, p. 164-180.

ZAMPARONI, Valdemir. De escravo a cozinheiro: colonialismo & racismo em Moçambique. Salvador: EDUFBA, CEAO, 2007.

ZONTA, Diego. “Moçambique” e o comércio internacional das oleaginosas (1855-1890). Dissertação (Mestrado em História da África) – Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2011.

BHILA, H. H. K. A região ao Sul do Zambeze. In: OGOT, Bethwell Allan (Ed.). História Geral da África – V: África do século XVI ao XVIII, p. 755-806. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000322.pdf>.